terça-feira, 19 de setembro de 2017

Exílio

Cheguei à noite trazida pelo vento. As árvores balançavam com o meu andar. Eu carregava uma sacola cheia de coisas. Me mandaram entrar, mas eu já estava lá dentro. Eles não sabiam. A noite parecia nunca ir embora. Ninguém se sentia livre. As regras nos perseguiam todos os dias. Mas ninguém queria sair de lá.
Uma menina de cabelos longos e negros se aproximou com dois amigos. Dois garotos. Eles tinham quase a minha idade. Eu não sabia o nome de ninguém, esquecia se ouvia, mesmo que ouvisse se esquecesse. 
-Damian! -eu disse para um deles enquanto conversávamos sobre assuntos que não eram permitidos lá dentro. Eu não tinha certeza sobre o nome do garoto, mas se não acertei ele não se importou. Damian ou Daniel? Eu o chamei de Damian mesmo assim. Ele se aproximou de mim de um jeito que disse nunca ter se aproximado de uma garota. Mas de garotos talvez... Eu não me importei. A menina ficou com raiva. Não falou mais comigo. Não me interessava, Damian estava lá. Era como se a vida tivesse sido devolvida à mim. Eu não tinha medos, não tinha inimigos, não ligava, não estava preocupada. Feliz, talvez?
O que seria aquilo? Uma figura de chapéu chegou para se juntar à nós. Fui buscá-lo. Era a norma. "Não deixe que se perca! Você é mais capacitada!" Me vi do lado de fora novamente, trazendo o homem para nosso convívio. Qual seria o problema dele? Todas as noites eternas ele se sentava e nos olhava em nossas pequenas liberdades pelo pátio coberto de árvores molhadas por chuvas passageiras. O frio era seu amigo. Ele nos protegia. Mas não pode nos livrar do que veio em seguida. Denunciados talvez pela garota de cabelos negros enciumada, Damian e eu fomos chamados por pessoas acima de nós exigindo explicações. Explicações que não conseguíamos dar. Ninguém queria sair de lá, mas não éramos mais ninguém, éramos nós e não nos importamos. Seguimos no deserto. Maryl, a menina de cabelos negros nos olhou de longe fugindo da liberdade.

10 de fevereiro de 2017

Nenhum comentário:

Postar um comentário