terça-feira, 23 de julho de 2013

"Luto Secreto"

Eu sempre me envolvo mais do que deveria...

Há alguns anos descobri algo que me deixou em choque por semanas. Mesmo sendo facilmente classificado como bobagem, o fato de meu personagem favorito desde os 3 anos ter tido 2 dubladores e eu nunca ter notado era, para mim, algo importante e um assunto a ser discutido constantemente.
Como eu nunca percebi? Eu me recusava a notar? Por que sempre foi fácil para mim identificar e diferenciar vozes de dubladores, mas não pude fazer isso com o personagem que eu mais gostava do filme que eu mais gostava?
Bom, talvez eu simplesmente tivesse ignorado o fato devido à esperança ilusória de que meu filme favorito fosse real. Depois que cresci, não havia motivo para não saber quem era o dublador do Woody. Até porque seria bem mais normal ser fã de uma pessoa que de um desenho animado. Mas ao obter a resposta que procurava, deparei-me com algo que jamais imaginei e que só pensei na possibilidade em meus piores pesadelos. Pesadelos aqueles que haviam se concretizado muito antes de eu se quer pensar que poderia acontecer.
Conhecendo os dois dubladores do simbolo da minha infância, não pude evitar de ter uma preferencia, o que foi a causa de minha decisão tardia e muito pensada sobre nunca mais tocar no assunto. Eu preferi aquele que havia deixado esse mundo. Não foi uma escolha, simplesmente aconteceu.
Depois de conhecer Alexandre Lippiani o máximo que pude, e por máximo eu digo, procurar por ele em quase todos os sites que eu conhecia, e stalkear a filha dele no facebook (nunca vou te perdoar por não ter me aceitado, Julia!), me tornei fã dele. No inicio era uma fã normal cujo o ídolo havia morrido, colecionando fotos e vendo vídeos, tentando lembrar de fatos da própria vida do tempo em que ele ainda habitava a Terra. Ele era alguém que não me conhecia e que não era, de nenhuma forma, próximo à mim (exceto pelas falas totalmente decoradas de Toy Story). Depois de ter algumas revoltas controladas por sua morte prematura, acreditei ter me acostumado totalmente à ideia de que o melhor dublador que meu Woody já teve havia deixado esse mundo para sempre (sem querer menosprezar o trabalho do Marco Ribeiro, que ficou tão perfeito que eu nunca diferenciei a voz dele da do Alexandre, obrigada Marco). Não fosse o meu querido Facebook e as páginas sobre dublagem que eu curto, minha aceitação teria sido eterna.
Encontrar fotos do Alexandre Lippiani na internet foi o trabalho de pesquisa mais árduo que eu já tive de fazer, logo, encontrar fotos dele na internet por acaso, isto é, sem estar procurando, era, no mínimo, impossível! Por isso me espantei ao vê-lo na minha timeline. Fiquei feliz, alegre e satisfeita, pois reclamava constantemente de que as pessoas não lembravam dele. Li os comentários, alguns de pessoas que o conheceram, e passei a considerá-lo ainda mais, mas nada foi como no dia em que Guilherme Briggs escreveu sobre ele.


O que li foi tão tão inesperado que não pude conter as lágrimas. Por muito tempo senti vontade de perguntar para o Guilherme se os dois eram amigos, ou pelo menos um pouco próximos, mas nunca achei que ele fosse responder. Nem foi preciso, a resposta acabou vindo até mim duas vezes. Na segunda ao vivo. Ele falou do Alexandre na minha frente, enquanto eu segurava a câmera com as mãos trêmulas e tentava não chorar e acabar estragando tudo.

Pelo contato relativamente próximo que tive/tenho com conhecidos dele, percebi que a tragédia de tê-lo perdido, por mais horrível e inaceitável que fosse não dizia respeito a mim de nenhuma maneira. Woody ficou órfão de dublador por 2 anos, mas eu era só a garotinha que alugava a mesma fita de vídeo todos os finais de semana. Então, por que chorar? Por que me importar? Por que sentir? Não havia lógica alguma.
Minha decisão de não falar sobre ele havia sido tomada meses antes, mas eu precisava fazer algo mais profundo, precisava esquecê-lo completamente. Uma tarefa nada fácil considerando as toneladas de páginas escritas sobre ele nos meus cadernos e diários. Eu precisava me livrar de pelo menos uma parte das milhares de coisas que havia escrito. Decidi deletar alguns dos comentários que fiz nas mídias sociais e, ao abrir meu querido Facebook para concretizar meu triste plano, encontrei... uma foto dele na primeira página! Foi o suficiente para me fazer mudar de ideia. Não que eu tenha interpretado tudo como uma espécie de aviso (inclusive a música Don't You Forget About Me (Não Se Esqueça de Mim) ao fundo), tomei apenas uma decisão menos "brutal". "Mantenha seu luto em segredo, não conte nada a ninguém, não peça ajuda nem que doa demais, um dia vai passar", e foi o que fiz. Nenhuma palavra sobre ele será arrancada de mim, nem com muita insistência a não ser que eu resolva falar. Apenas saiba que eu ainda me importo, sempre vou me importar, de uma maneira ou de outra. Alexandre Lippiani é, e sempre será, o dublador do Woody no meu país, meu ator brasileiro preferido, alguém que passou brevemente pela minha vida e fez minha infância feliz.
"Então brinque direito!"

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